Eu tinha prometido a mim mesmo que não escreveria sobre
o último livro do Dan Brown, Inferno. Me encontrei com ele nas livrarias de
Londres, logo quando foi lançado, ao custo de £15, na promoção!
Por conta das reclamações
da Emília, que também queria ler, acabei não comprando a versão em inglês e fui ler uma versão
emprestada, em português mesmo.
O livro mais recente do autor tem como personagem
central o mesmo professor Langdon, aquele que estuda símbolos e que é um ás em
decifrar códigos misteriosos com base em associações capazes de fazer inveja ao
famoso Sherlock Holmes.
Desta vez, nosso destemido professor acorda em um
hospital em Florença na Itália e se vê envolvido em uma perseguição
inexplicável e uma investigação que envolve um cientista maluco que desenvolveu
uma arma biológica – um vírus ou algo parecido – com o intuito de construir um
mundo melhor diminuindo o número de pessoas que existem sobre a face da terra.
O Inferno que dá título ao livro e que servirá de
organizador de todo o mistério que Langdon se empenhará em decifrar, é o Inferno
de Dante e a referencia simbólica que é ponto de partida para as investigações
do nosso simbologista é um famoso quadro de Sandro Botticelli, que retrata o
inferno dantesco, chamado Mapa do Inferno.
O livro segue a receita Brown de capítulos curtos,
referências reais, viagens globe-trotters, surpresas e reviravoltas. Mas está
longe, em termos de qualidade, do Código da Vinci ou mesmo do Anjos e Demónios,
já referido neste blog.
A estória é fraca, demora a prender a atenção do
leitor- diria que se o leitor não tiver uma dose de persistência, é grande a
chance de não ir até o fim – e o enredo, propriamente dito, é sofrível. Em
síntese, talvez não chegue a ser um inferno, mas o livro não saiu do
purgatório!
Por conta desta crítica achei difícil relacioná-lo com qualquer
das viagens que tinha feito, até porque enquanto o lia a única cidade em que a
história ocorre – na verdade menciona – que seria comparável às sensações que
ele me proporcionava seria Lucca, na Toscana.
Na estória de Brown, para despistar seus perseguidores,
Langdon dá a entender que vai decolar do aeroporto de Lucca, mas acaba saindo
de Veneza ganhando preciosos minutos na sua fuga até que seus perseguidores
chegam à cidade e descobrem que foram enganados. Ou seja, no livro, ninguém vai
lá, a não ser enganado.
Passamos por Lucca depois de termos visitado o
maravilhoso complexo do batistério, igreja e campanário de Pisa, ali mesmo onde
esta a mais famosa torre da Itália.
Pisa se mostrou uma cidade muito agradável e como o dia
estava maravilhoso, com um céu sem nenhuma nuvem e uma luminosidade que
conseguia extrair a máxima beleza de prédios e lugares, as ruas, as praças e as
atrações turísticas estavam cheias de pessoas que traziam ainda mais beleza e animação
para o local.
A pequena estrada pelas montanhas que liga as cidades de
Pisa e Lucca é, ela mesma, um ótimo passeio, com curvas sinuosas e paisagens
rurais de tirar o fôlego. Tudo isto somado às maravilhas descritas pelo guia de
turismo sobre a pequena cidade para onde íamos, era certeza de um excelente
passeio e ótima opção para aproveitar a maior parte do dia.
Chegando em Lucca, que decepção!
A cidade tem uma muralha antiquíssima que a circunda,
onde os moradores fazem seu cooper matinal e meu pai conseguiu a proeza de
subir de carro ao se perder na entrada da cidade. Também tem as tradicionais
vielas de um centro medieval, tem igrejas, praças e referências a grandes
artistas como acontece em quase todas as cidades da Itália. Mas é só isso!!!
Como o livro de Dan Brown, que possui os mesmos
elementos dos sucessos anteriores e não consegue repetir tal façanha, a cidade
tem tudo o que o receituário do que uma cidadezinha italiana precisa para ser
atraente e interessante para o visitante, mas não tem charme.
As igrejas e praças estavam mal cuidadas, a
impressionante San Michele in Foro estava passando por reformas e quase nada
dela podia ser apreciado, os bares e restaurantes eram bem fraquinhos, enfim,
faltava vida e animação às vielas e praças.
Num esforço de tentar encontrar alguma compensação para
o fato de não termos aproveitado mais do maravilhoso clima que encontráramos em
Pisa, procuramos um lugar interessante para almoçar no Anfiteatro Romano, onde deveríamos
encontrar lojinhas, bares e restaurantes.
Novamente, decepção! O local estava vazio, com quase
nenhum movimento e o serviço do restaurante que escolhemos, o único que tinha algum
público, era sofrível.
Voltamos para Padova, nossa cidade base nesta
temporada italiana com o sentimento – quase arrependimento – de que deveríamos ter
apenas passado pela cidade e deixado Pisa para a segunda etapa do dia, quando
certamente teríamos melhor proveito.
Mas, assim como não me arrependo de ter ido a Lucca, não
me arrependo de ter lido o Inferno de Dan Brown, mas certamente só os recomendaria
com reservas.