domingo, 22 de junho de 2014

O Inferno de Lucca.



Eu tinha prometido a mim mesmo que não escreveria sobre o último livro do Dan Brown, Inferno. Me encontrei com ele nas livrarias de Londres, logo quando foi lançado, ao custo de £15, na promoção!
Por conta das reclamações da Emília, que também queria ler, acabei não comprando a versão em inglês e fui ler uma versão emprestada, em português mesmo.
O livro mais recente do autor tem como personagem central o mesmo professor Langdon, aquele que estuda símbolos e que é um ás em decifrar códigos misteriosos com base em associações capazes de fazer inveja ao famoso Sherlock Holmes.

Desta vez, nosso destemido professor acorda em um hospital em Florença na Itália e se vê envolvido em uma perseguição inexplicável e uma investigação que envolve um cientista maluco que desenvolveu uma arma biológica – um vírus ou algo parecido – com o intuito de construir um mundo melhor diminuindo o número de pessoas que existem sobre a face da terra.
O Inferno que dá título ao livro e que servirá de organizador de todo o mistério que Langdon se empenhará em decifrar, é o Inferno de Dante e a referencia simbólica que é ponto de partida para as investigações do nosso simbologista é um famoso quadro de Sandro Botticelli, que retrata o inferno dantesco, chamado Mapa do Inferno.

O livro segue a receita Brown de capítulos curtos, referências reais, viagens globe-trotters, surpresas e reviravoltas. Mas está longe, em termos de qualidade, do Código da Vinci ou mesmo do Anjos e Demónios, já referido neste blog.
A estória é fraca, demora a prender a atenção do leitor- diria que se o leitor não tiver uma dose de persistência, é grande a chance de não ir até o fim – e o enredo, propriamente dito, é sofrível. Em síntese, talvez não chegue a ser um inferno, mas o livro não saiu do purgatório!

Por conta desta crítica achei difícil relacioná-lo com qualquer das viagens que tinha feito, até porque enquanto o lia a única cidade em que a história ocorre – na verdade menciona – que seria comparável às sensações que ele me proporcionava seria Lucca, na Toscana.
Na estória de Brown, para despistar seus perseguidores, Langdon dá a entender que vai decolar do aeroporto de Lucca, mas acaba saindo de Veneza ganhando preciosos minutos na sua fuga até que seus perseguidores chegam à cidade e descobrem que foram enganados. Ou seja, no livro, ninguém vai lá, a não ser enganado.

Passamos por Lucca depois de termos visitado o maravilhoso complexo do batistério, igreja e campanário de Pisa, ali mesmo onde esta a mais famosa torre da Itália.
Pisa se mostrou uma cidade muito agradável e como o dia estava maravilhoso, com um céu sem nenhuma nuvem e uma luminosidade que conseguia extrair a máxima beleza de prédios e lugares, as ruas, as praças e as atrações turísticas estavam cheias de pessoas que traziam ainda mais beleza e animação para o local.

A pequena estrada pelas montanhas que liga as cidades de Pisa e Lucca é, ela mesma, um ótimo passeio, com curvas sinuosas e paisagens rurais de tirar o fôlego. Tudo isto somado às maravilhas descritas pelo guia de turismo sobre a pequena cidade para onde íamos, era certeza de um excelente passeio e ótima opção para aproveitar a maior parte do dia.
Chegando em Lucca, que decepção!

A cidade tem uma muralha antiquíssima que a circunda, onde os moradores fazem seu cooper matinal e meu pai conseguiu a proeza de subir de carro ao se perder na entrada da cidade. Também tem as tradicionais vielas de um centro medieval, tem igrejas, praças e referências a grandes artistas como acontece em quase todas as cidades da Itália. Mas é só isso!!!
Como o livro de Dan Brown, que possui os mesmos elementos dos sucessos anteriores e não consegue repetir tal façanha, a cidade tem tudo o que o receituário do que uma cidadezinha italiana precisa para ser atraente e interessante para o visitante, mas não tem charme.

As igrejas e praças estavam mal cuidadas, a impressionante San Michele in Foro estava passando por reformas e quase nada dela podia ser apreciado, os bares e restaurantes eram bem fraquinhos, enfim, faltava vida e animação às vielas e praças.
Num esforço de tentar encontrar alguma compensação para o fato de não termos aproveitado mais do maravilhoso clima que encontráramos em Pisa, procuramos um lugar interessante para almoçar no Anfiteatro Romano, onde deveríamos encontrar lojinhas, bares e restaurantes.

Novamente, decepção! O local estava vazio, com quase nenhum movimento e o serviço do restaurante que escolhemos, o único que tinha algum público, era sofrível.
Voltamos para Padova, nossa cidade base nesta temporada italiana com o sentimento – quase arrependimento – de que deveríamos ter apenas passado pela cidade e deixado Pisa para a segunda etapa do dia, quando certamente teríamos melhor proveito.

Mas, assim como não me arrependo de ter ido a Lucca, não me arrependo de ter lido o Inferno de Dan Brown, mas certamente só os recomendaria com reservas.

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