Voltei a ler Umberto Eco recentemente.
Depois da paixão que nasceu, arrebatadora, da leitura d’O
Pêndulo de Foucault e d’O Nome da Rosa – cujo filme é igualmente ótimo – achei
que era para sempre. Mas veio Baudolino e foi uma desilusão amorosa. Quase não consigo terminar o dito livro. Jurei nunca mais! Como se faz com as paixões que nos decepcionam.
Mas o mal dessas paixões é que passada a dor e a desilusão fica aquela coisa... Meio que querendo perdoar e com medo de tentar novamente. - Quem sabe na próxima dá certo?!!
Aí aconteceu.
Estava no aeroporto de Lisboa, estação de baldeação para todos os fortalezenses que querem se aventurar na Europa. Voltava de uma incursão pelo Império Austro-Húngaro. Duas semanas percorrendo a República Tcheca, a Eslováquia (Bratislava é lindinha), Budapest (maravilhosa) e Viena (histórica), com última parada na favorita Praga.
Chegamos na Semana Santa à capital tcheca. Os dias não podiam ser mais perfeitos. Longos, ensolarados e com uma temperatura nunca abaixo dos 10 graus e nunca acima dos 23. Tirando o enxame de gente atravessando a Ponte Carlos para lá e para cá, perfeito.
Visitamos a cidade velha (Staré Mesto), a Mala Strana e a cidade nova (Nové Mesto). O castelo, as igrejas, o Menino Jesus, o relógio astronômico (Orloj), o museu e tudo o mais. O cemitério judeu, claro, era uma das visitas programadas. Mas tinha sido um dia de intensas caminhadas e descobertas e, como fazia minha avó Ilay, demos por visto.
Chegamos até a entrada do cemitério. Demos uma espiada e achamos muito interessante as inúmeras lápides que se amontoam em um espaço que aqui no nosso Brasil de terras vastas, não seria valorizado. Mas a fila na entrada não estava muito engraçada e preferimos continuar caminhando pelas lindas ruas do bairro judeu, parar numa de suas praças, sentar e ficar olhando as pessoas que passavam.
Estava ainda sob os efeitos desta maravilhosa estada em
Praga quando, ao entrar na livraria do aeroporto me deparo com ele.
Uma capa escura com jogo de sombras, um título que
remetia à cidade que acabara de estar e aquela esperançazinha de que, quem
sabe, a paixão podia voltar.Ao contrário do que esperava a estória é quase toda ambientada em Paris e o cemitério de Praga é uma figura, uma referência, uma recorrência para, de certa maneira, dar verossimilhança a uma estória misteriosa que acaba por nos envolver com a personagem esquizofrênica, glutona e obscura que protagoniza o romance de Eco.
Com referências à Itália, de onde o protagonista é
oriundo, de suas incursões na Sicília e de sua vida nos subúrbios de uma Paris
no século XIX o livro de Umberto Eco também permite suas viagens. Algumas até
bem saborosas, mas nada como Praga.
Não há a sensação de observar a cidade fervilhando
desde as encostas do castelo com suas vinícolas em patamares ou como um
elegante jantar às margens do Vltava assistindo aos turistas de todas as idades
a tirar fotos na Ponte Carlos ou ainda as incursões no universo dessa
estranha personagem que é Franz Kafka. Mas o livro é gostoso de ler.
Como acontece com as paixões antigas que tentamos reavivar, dificilmente voltam com a mesma intensidade, mas ainda assim continuam tendo seu sabor.
Gostei do texto! Agradável e com ritmo. Continue fazendo avaliações de livros lidos, de fatos politicos e de outras incursões, talvez até no mundo da gastronomia e da enologia.
ResponderExcluirTambém já gostei muito de Umberto Eco e Cemitério de Praga foi igualmente uma tentativa de retomar a paixão. Li quase todo, mas ainda não consegui acabar. Não me arrebatou.
ResponderExcluirTardin, realmente o livro tambem nao conseguiu me arrebatar... tem seu prazer mas nao empolga...
ResponderExcluir