Aqui estou
eu mais uma vez às voltas com Umberto Eco no Aeroporto da Portela. Desta vez
não por conta de um livro do autor italiano, mas porque ao procurar um livro para
minha última viagem me deparei com um volume que se anunciava o melhor thriller
medieval desde O Nome da Rosa!!!
Fã declarado
do romance medieval que junta mistério, religião, morte e livros, produzido há
cerca de 30 anos, não me contive e comprei o tal deixando outros que pareciam
igualmente interessantes para uma próxima oportunidade.
A Oficina
dos Livros Proibidos, de Eduardo Roca, é um romance que se passa na Alemanha
medieval, mais precisamente na cidade de Colônia e, assim como aquele escrito
por Eco, também trata de livros, igreja, mortes e mistérios. Mas devo
confessar que a propaganda é um tanto enganosa.
Apesar do
bom texto, especialmente na sua ambientação da Colônia no medievo, o romance é
longo, com grande número de personagens, mais ou menos importantes, que vão
sendo apresentadas à trama paulatinamente o que, para o meu gosto, faz com que
o suspense e o mistério demorem demais a aparecer.
Personagem
central da história, Lorentz é um ourives apaixonado por livros e por literatura
que, por conta de ser canhoto, nunca conseguiu aquilo que realmente
sonhava: ser copista e trabalhar em uma oficina especializada em copiar livros. Essa
frustração acaba transformando-o, de acordo com o autor, em um precursor de
Gutemberg.
A estória se
desenrola em torno da vida de Lorentz e sua filha Erika, que em sua pequena
casa em um bairro pobre de Colônia, começam a trabalhar na invenção
de uma máquina capaz de copiar livros. Lorentz vai, passo a passo, desde a
concepção dos tipos, passando pelo desenvolvimento dos tipos móveis, até as
soluções que ele encontra para a prensa, a tinta e o uso do papel, por método
de tentativa e erro, descobrindo o invento que irá revolucionar a história do
mundo cristão e fazer dos livros algo barato (!) e acessível.
Nesta trajetória
somos apresentados ao Burgomestre de Colônia (equivalente ao prefeito de então), ao Arcebispo que é, ao mesmo tempo, Príncipe Eleitor do Sacro Império e grande
potentado de toda a região, ao rico proprietário da maior oficina de livros da
cidade e ao pequeno círculo dos eruditos que pretendem difundir conhecimento e
que vão apoiar o ourives na sua invenção.
As coisas
caminham bem para Lorentz e sua engenhoca até que uma encomenda anônima para a
produção de 200 volumes dos Evangelhos em Alemão – e não em Latim – vai colocar
a ele e seus amigos no centro de um turbilhão político e religioso.
É neste
momento, quando bíblia traduzida cai nas mãos do Arcebispo e o Burgomestre
começa uma violenta investigação para descobrir a sua origem, que o
thriller, por assim dizer, toma conta da leitura. Mas para tanto, o
leitor já teve que trilhar quase 75% da estória e os menos obstinados talvez já
tenham se enfadado das ruas de Colônia e das aberturas de capítulos sempre com
referências às condições climáticas da cidade.
Muito
diferente da experiência de ler O Nome da Rosa que nos prende desde a primeira página e não nos deixa larga-lo antes de saber quem
está por trás dos misteriosos assassinatos que acontecem no mosteiro onde a
trama está ambientada. Daí a propaganda enganosa!
Ao contrário
do livro de Eduardo Roca, a cidade de Colônia nos prende desde o primeiro
momento. Não há como não se impressionar com a magnifica catedral, o Kolner Dom
que, de forma altaneira, vigia o Reno desde suas imensas torres e sua
gigantesca estrutura.
Assim que
você desembarca do trem e sai para a Bahnhofsvorplatz ela está lá, imponente,
inescrupulosamente te obrigando a olhar para os céus e se sentir pequeno diante
de sua beleza e altivez. Ao subir os degraus que levam para o pátio da Catedral
o visitante está no ponto de partida e de chegada de qualquer roteiro na cidade
e ela e seu entorno merecem uma visita sem pressa.
A Kolner Dom
levou mais de 600 anos para ser construída – tanto assim que na novela de Roca
ela ainda está em obras – e é a maior catedral gótica da Europa, capaz de tirar
o fôlego de qualquer visitante, seja pelo seu tamanho e imponência, seja pela
beleza de suas peças, especialmente o relicário onde estariam os restos mortais
dos Três Reis Magos.
Mas Colônia
é muito mais que a Dom.
Tive a sorte de me hospedar nesta cidade bem no inicio
do verão por conta da minha participação na COP 17 de mudanças climáticas e
depois voltei lá para mais uma visita no final do outono, já começando a fazer
frio. Nas duas
ocasiões aproveitei para passear pelas ruas apertadas da cidade medieval,
almoçar nos restaurantes que ficam no Fischmarkt, bem de frente para o rio,
onde, na época em que se passa o thriller ficavam as docas do movimentado porto
fluvial da cidade.
O lugar
continua movimentado e agora, além do porto, tem um delicioso
calçadão por onde se pode gastar boas horas caminhando, apreciando a beleza dos
prédios de época, tomando uma Kolsch (cerveja típica de Colônia) num dos bares
ou afastando o calor com um sorvete. Ali se pode pegar
um barco e fazer um passeio pelo Reno, como também é de lá que se toma o barco para a cidade vizinha de Dusseldorf.
Se preferir
continuar em terra firme, a caminhada no sentido oposto ao da catedral te
levará ao museu do chocolate, que não é esse balaio todo, mas para os
apreciadores da iguaria asteca tem uma lojinha com grande sortimento de
chocolates e outras tantas variedades de doces e guloseimas.
Na primeira
vez que estive por lá dei a sorte de descobrir que no Heumarkt, uma praça
central na cidade antiga, estava acontecendo um festival de vinhos da região. Digo
que dei sorte porque só descobri o evento porque peguei
o trem errado e tive que saltar na estação da praça para fazer uma baldeação e
me vi cercado por toda aquela algazarra.
Como era
verão, chegava à praça voltando de Bonn por volta das 19 horas, com dia claro e
ficava perambulando por ali, experimentando todas as variedades de vinho,
sempre acompanhado de um salsichão alemão, que assim como a bebida, também vem
em muitas opções. Dediquei boa
parte de minhas noites jantando naquela praça, observando a animação das
pessoas que, saindo do trabalho, iam encontrar amigos, familiares ou, assim
como eu, apenas ver movimento.
Ali por
perto fica a Rathaus, o antigo prédio da prefeitura, o museu da água de Colônia
(que como o nome indica foi inventada ali em 1709), além de várias cervejarias tradicionais, as Brauhaus, onde se pode apreciar um joelho de porco com mais uma
cerveja, preferencialmente, uma produzida na casa.
Tomando
novamente a direção da catedral, passa-se pelo variado comércio da parte central
da cidade e, na esplanada da grande igreja, não se pode deixar de visitar o
ótimo museu do período do Império Romano, o Romisch-Germanisches Museum.
Colônia era
a principal cidade do Império Romano daquelas bandas e seu nome vem deste
período. A cidade chamava-se então Colônia Agripina, em homenagem a sua filha
mais ilustre, Agripina, que veio a ser a mãe do piromaníaco Imperador Nero.
Durante seus anos de poder e glória Agripina protegeu e favoreceu sua terra
natal e, consequentemente, são muitas as referências a ela na história da
cidade e nas peças do museu.
Também ali
perto, por trás da Catedral – passando ao largo do Museu Ludwig, de arte
moderna, que fica imediatamente atrás do primeiro – se alcança uma das pontes
da cidade, aquela por onde passam os trens que vão para a estação central. Além
de ser uma travessia gostosa, dependendo do clima é claro, ela permite belas
fotos do skyline da cidade. Para minha surpresa, é a ponte em toda a Europa que
eu mais vi ter aqueles cadeados pendurados, representando os votos de casais
enamorados de todo o mundo.
Do outro
lado do rio, a cidade é mais moderna e mais ampla e por onde se distribuem boa
parte dos mais de 1 milhão de moradores de Colônia. Em geral, os hotéis daquele
lado são mais novos e também mais baratos. Nas duas vezes que estive por lá,
fiquei daquele lado e apesar do bom sistema de transporte público, várias vezes
preferi fazer a travessia a pé aproveitando ao máximo minha estada.
Depois, ao
ler sobre a cidade e suas atrações, descobri que também para aqueles lados
havia coisas a conhecer e lugares para se divertir, mas confesso, que assim
como os livros sobre história me atraem nas prateleiras de livrarias, mesmo
quando são thrillers não tão bons, as partes antigas das cidades europeias exercem
uma atração tal que dificilmente consigo me aventurar pelos outros bairros.
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