Não que o livro de Loránt Deutsch o coloque como candidato ao Prêmio Nobel de Literatura ou algo que o assemelhe. Não, não é essa a covardia que estou falando.
Talvez devesse dizer: aí é moleza demais!
Um blog que trata de livros e viagens falar sobre um
livro que é quase um guia para viajantes é covardia! Mas hoje me é conveniente.
Para aqueles que pretendem ir a Paris pela primeira vez
talvez o livro não seja recomendado, a não ser que você seja um aficionado por
história. Caso contrário, deixe o Próxima Estação para sua próxima viagem à
capital francesa.
Entrementes, se perca nos intermináveis metrôs da
Cidade Luz; vá ao Palácio de Versailles e se apaixone nos seus jardins; suba a
Torre Eiffel e caminhe pelo Campo de Marte até a École Militaire; vá para um
promenade nos Champs Elysées e jante uma pizza em uma de suas esquinas brindando
o Arco do Triunfo e a felicidade de viver aquele momento; tome um vinho nacional
(!!) em um café na calçada para poder contar para os amigos; experimente os
maccarone da Angelina enquanto passeia pelas Tulherias; se assuste com os
gárgulas de Notre Dame ou se impressione com sua missa no domingo pela manhã; se
decepcione com a Mona Lisa no Louvre (é só esse quadrinho?!), mas só saia de lá
no fim do dia com aquela sensação de quero mais e coma barato naqueles
restaurantes do Quartier Latin com os gregos quebrando pratos aos seus pés
enquanto você passeia despreocupadamente; coma um crepe de Nutella em Montmartre
depois de passar horas (se der) contemplando a cidade das escadarias da Sacre
Coeur.
Ou seja, viva sua primeira vez em Paris como verdadeiro
turista. Porque qualquer pessoa com juízo sabe que Paris é
cidade para ir duas, três ou mais vezes. Desde que o tempo e o bolso o
permitam.
Cumprido o ritual da primeira ida, aí sim, coloque o livro em questão na sua bagagem para a próxima viagem a Paris. Ele conta a história da capital francesa, desde os tempos dos gauleses até os dias de hoje a partir das suas estações de metrô. Sugiro que o leve para a viagem, mas eu mesmo o li aqui em casa, sem qualquer conexão com uma viagem próxima e adorei.
Primeiro porque encontrei mais uma justificativa para voltar à cidade (como se isso fosse necessário) e depois porque como adoro história e suas curiosidades, saber que o Campo de Marte, aquele mesmo em frente à Torre, tem esse nome porque foi neste local que há cerca de 2000 anos os romanos dizimaram a resistência gaulesa e pavimentaram a expansão do Império de Júlio César na direção da Grã Bretanha é informação importante que será usada em uma próxima conversa com amigos em torno de um Bordeaux ou mesmo de um Carmenére sul americano.
Ou ainda, descobrir que no mesmo local onde está erguida a imponente Notre Dame os antigos druidas haviam erigido um templo para homenagear uma de suas divindades e que os moradores de toda a região para lá se deslocavam para agradecer uma colheita satisfatória ou pedir proteção nos anos de dificuldade. Ou seja, que aquele é um lugar de peregrinação religiosa há tanto tempo, é ou não é interessante?
Tudo isto faz com que Paris se apresente com outra feição, menos coquete, talvez, mas ainda assim muito divertida. A cada parada, a cada estação de metrô, o leitor é convidado a olhar as ruas de Paris de outra perspectiva.
Seja revendo o famoso Saint-Germain de Prés e entendendo as grandes intervenções que o barão Haussman comandou e que transformaram a cidade no século XIX dando-lhe os bulevares e praças que tanto nos apaixonam, seja revisitando a importância dos acontecimentos na Bastilha, dos anos napoleônicos dos Invalides, das movimentações políticas na praça do Hôtel de Ville ou chegando ao século XXI na estação de La Defénse, com os prédios modernosos desta Paris mais recente.
Não precisa seguir ordem cronológica, geográfica ou numérica. Siga o seu coração e o seu interesse pela história parisiense. Talvez você vá descobrir que aquela calçada, aquele resto de muralha, aquela fonte, aquela estátua ou aquele museu que na última ida a Paris você não notou ou não deu importância tem um valor todo especial.
Valor que o livro de Loránt Deutsch vai revelar e um convite para mais uma viagem à França.
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