sexta-feira, 31 de maio de 2013

Maria, Fernando e Sintra.


Mulheres poderosas atraem! 

Talvez por este motivo, nos últimos anos, livros que tratam da vida de mulheres com poder acompanharam muitas das minhas noites e viagens. Foram companheiras de jornada: Mary Stuart da Escócia e Elizabeth da Inglaterra, Isabel do Brasil, Isabel da Espanha, Catarina da Rússia, Catarina da França e Maria de Portugal.

Não a Louca, Maria I, mas a brasileira, a segunda, Maria Joana Carlota etc... filha de Pedro (primeiro no Brasil e quarto em Portugal) e de Leopoldina. Nascida nos trópicos e criada para ser rainha em terras europeias. Até a sua época, único chefe de estado na Europa não europeu. Hoje temos até um argentino!!!

Mas voltemos a Portugal do século XIX e a Maria II.

O livro de Isabel Stilwell, D. Maria II – Tudo por um Reino, narra a difícil vida de uma criança que foi rainha aos 7 anos de idade e que mais ou menos na mesma época foi dada em casamento ao tio Miguel, irmão de Pedro que acabou usurpando o trono português, renegando o casamento com a sobrinha e a chance de uma sucessão menos conflituosa em Portugal.

Depois de idas e vindas à Europa, onde entre outras coisas fica amiga e confidente de Vitória da Inglaterra (outra poderosa), Maria acaba assistindo o sucesso de seu pai na recuperação da coroa lusa. Dom Pedro, junto com Palmela, Saldanha e outros companheiros liberais, consegue defenestrar o irmão e ex-futuro-genro do trono para, logo em seguida, falecer no mesmo leito em que nasceu no Palácio de Queluz.
Assim, aos 16 anos Maria Joana torna-se Maria II de Portugal e, às vésperas de sua entronização, aceita em casamento o irmão de sua madrasta Amélia, segunda esposa do pai. Casamento que também acaba não se realizando pois o futuro esposo morre de difteria antes de o consumar. Aos 19 anos depois de duas tentativas frustradas de se casar, vai encontrar o marido em um casório arranjado pelo Rei Leopoldo da Bélgica com apoio de sua amiga Vitória, com o príncipe Fernando de Saxe-Cobourg-Gotha.

Ao contrário do que se poderia esperar de uma mulher do século XIX, Maria não abre mão em nenhum momento de suas prerrogativas de rainha. Nem mesmo quando nasce o príncipe herdeiro – primeiro de uma série – e que, conforme a constituição de então, Fernando deixava de ser príncipe consorte para ser Rei de Portugal, Maria II deixa de governar e conduzir a política portuguesa.
Isto em um período em que a Corte está mais que agitada, com golpes e contragolpes de Estado, gabinetes que se formam e se desfazem, movimentos militares e revoltas populares que agitam todas as cidades lusas, do Minho ao Algarve. E ela, jovem e voluntariosa, se empenha em conciliar os papéis de mãe, mulher, esposa, chefe de governo e de Estado em uma época e numa sociedade em que tudo isso fazia pouco ou nenhum sentido.

O rei bem que tenta ajudar a esposa com seu espirito conciliador e moderado, mas diante da intransigência de Maria II, por opção ou por falta dela, acaba se entregando a outra de suas paixões a arquitetura e a construção do Palácio da Pena na cidade de Sintra. Obra a que se dedica durante todos os anos como rei lusitano e que hoje é um patrimônio daquele país e uma visita mais que recomendada para todos que forem à terrinha.
O Palácio da Pena fica no alto de um belo monte, cercado por antigas fortificações de um mosteiro do século XVI e foi comprado por Fernando para começar a sua remodelagem em conformidade com seu projeto, preservando-lhe a igreja e o claustro, entre outras dependências.

De lá se tem uma vista privilegiada da cidade de Sintra e de toda a região, um conjunto de serras ricas em flores e verdes cujos sons e aromas nos remetem às bucólicas temporadas em que família real tentava escapar das escaramuças da politica cortesã.
Assim como o tempo passado pela Rainha em Sintra é uma pequena parte do muito bom livro de Stilwell, uma visita a Sintra vale não só pelo Palácio da Pena ou pelas lembranças da Corte no Século XIX. Toda a região do Conselho de Sintra merece ser visitada e apreciada.

De saída a partir de Lisboa, o viajante não pode deixar de passar pelo Cassino do Estoril e pelas casas de praia de Cascais. A estrada, a antiga não a rodovia moderna, sinuosamente vai apresentando belos trechos do litoral lusitano a cada curva ou subida, até que, lá pela altura de Colares, é necessário tomar a direita e seguir na direção da cidade destino.
Lá chegando a gente se depara com um palácio de estilo eclético, com um sem números de cômodos que Fernando foi desenhando e adaptando aos seus interesses e projetos. Não vou dizer que o estilo me agradou, a impressão que fiquei foi a de que a cada filho que o casal ia concebendo o Rei ia fazendoo um puxadinho, mas é realmente interessante. Por um lado perde em estilo, por outro faz com que seja um palácio com ares de residência. Assim como o casamento de Fernando e Maria, ainda que arranjado, segundo a autora, nunca foi de fachada.

Além do Pena, o Palácio de Queluz também está nas proximidades para ser visitado, o Castelo dos Mouros também e outros vários palácios da nobreza portuguesa que se instalou na vila nos seus anos dourados podem fazer parte do passeio.  É uma oportunidade para conhecer a capital romântica de Portugal, já que seu centro histórico preserva interessantes representações do movimento romântico no país.
Também vale uma caminhada pelas ruazinhas da vila, com aquela tranquilidade característica das cidades onde as pessoas controlam o ritmo de suas vidas e não ao contrário. Não se deve perder a chance de experimentar as famosas queijadas, doce típico da região (confesso que doce demais para o meu paladar) ou comer um leitão ou um cabrito, ótimas opções para um almoço relaxado, tomando um vinho do Douro ou mesmo um alentejano, ainda que eles recomendem um da vizinha Colares.

Na volta, uma parada na praia do Guincho para apreciar o por do sol é uma recompensa para a alma e uma oportunidade para esticar as pernas. Faça isso tomando um cálice de vinho do porto para encerrar o passeio, fazendo, quem sabe, o mesmo trajeto que Fernando e Maria faziam há mais de 150 anos, deixando para trás os momentos de tranquilidade e regressando para as atribulações da cidade de Lisboa.

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